Dicas & Curiosidades

 
 
O Casamento é um dos eventos mais marcados por rituais e símbolos característicos que variam de acordo com a cultura e religião de cada país. Algumas tradições, entretanto, fazem parte do cerimonial em todo o mundo há séculos, como é o caso do buquê de flores, que é carregado pelas noivas desde a Idade Média.
 
Uma das explicações para a origem do buquê em festas de casamento está relacionada aos hábitos de higiene. No rigoroso inverno europeu, banhos eram raros e, sem sabonete e desodorante à disposição, o mau cheiro predominava em eventos e outros tipos de aglomeração.
 
O primeiro banho do ano era tomado após o inverno, em maio, e os casamentos eram marcados para logo após este período de higiene – acredita-se que é também por este motivo que maio é considerado o mês das noivas. Quando o casamento era realizado um pouco mais distante do mês de maio, as noivas carregavam flores perfumadas junto ao corpo para esconder o odor exalado pelas partes íntimas.
 
 
Há outra história para a origem da tradição do buquê, que diz que a peça era feita de ervas, grãos e alhos para afastar o mau-olhado. Era comum que a noiva fizesse a pé o trajeto até a igreja e, no caminho, recebesse flores e ervas como símbolo de boa sorte. Ao chegar a destino, havia se formado um buquê de todos os presentes recebidos.
 
Qualquer que seja a origem da tradição, o buquê é parte essencial do traje da noiva, e o momento em que a noiva o joga para ser disputado entre as convidadas solteiras é um dos mais aguardados da festa de casamento.

 

A Primavera

 
Cecília Meireles
 
 
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
 
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
 
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
 
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
 
  
 
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
 
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
 
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
 
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
 
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
 
 
Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.